03 de Dezembro de 2020

"São Francisco Xavier e os xaverianos"

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São Francisco Xavier e os xaverianos equivalem a dois itinerários missionários que se cruzam no brilhante encontro que São Guido M. Conforti viveu com a figura e o testemunho do Patrono das Missões. Já o fundador, São Guido orientou sua Família missionária para uma assimilação com São Francisco Xavier que forjaria o perfil apostólico de seus missionários. Um dos momentos marcantes deste processo de assimilação foi o Congresso de Espiritualidade xaveriana que nos permitiu redescobrir São Francisco Xavier e vivenciar como algo natural e evidente o motivo pelo qual Conforti nos deu como "modelo e patrono" (cf. Atti Convegno Spiritualità 2006, pp. 90 y 293-299).

Neste Ano Jubilar, e no início de nossa nova missão em Marrocos, queremos atualizar o relato provocador daquela intersecção que marcou a fundação de Conforti, contemplando a assimilação que hoje ocorre entre a experiência de São Francisco Xavier e aquela que nós, xaverianos, sempre desejamos viver maior fidelidade e compromisso real.

Partimos do fato de que, como alguém já disse: quando falamos de São Francisco Xavier, não estamos falando do itinerário de um apóstolo que viajou para Cristo, mas do itinerário de um apóstolo conquistado por Deus. É assim que o próprio Xavier interpretou as etapas de sua vida. A seguir, vamos ver como as fases de seu itinerário se entrelaçam com algumas luzes que motivam hoje a nossa xaverianidade.

1.Deus o arranca da busca da glória “humana” com a força da sua Palavra (Paris 1533): “De que adianta o homem ganhar o mundo se, no final, perde a alma?”. Faz nascer "no segredo da noite" (quantas horas de oração paciente e dócil!) O amor apaixonado pelas "almas".

“A consagração, segundo Dom Conforti, nasce da contemplação de Cristo crucificado e do amor que ele manifesta e desperta: ‘assim se ama’. ‘A experiência deste amor gratuito de Deus chega a um ponto tão íntimo e forte que a pessoa experimenta que deve responder com a entrega incondicional da sua vida, consagrando tudo, presente e futuro, nas suas mãos’. Consequentemente, é de uma experiência de amor que deriva a origem, o fundamento e o horizonte da nossa consagração a Deus pela missão” (RMX 15).

2.São Francisco Xavier plantou a cruz nos últimos cantos do mundo de seu tempo porque primeiro a cruz foi plantada em seu coração.

“O missionário é aquele que contemplou Cristo, que indica o mundo aos apóstolos para que o conquiste ... e foi seduzido”. (DP 12 – Pagine Confortiane 977).

3. Ele descobre na sua família religiosa uma comunidade na qual vê o rosto da Igreja e conta com a comunicação com os seus irmãos para compreender como proceder para “converter à santa fé” os povos que encontrou. Na verdade, ele pede a seus irmãos que lhe escrevam muitas vezes, longa e duramente, pois suas palavras são esclarecedoras.

“Fascinados pelo Senhor Jesus e pela sua causa, movidos e auxiliados pelo Espírito Santo, somos chamados a viver a nossa vocação em koinonia, conscientes de que a comunidade, por si mesma, já é testemunha missionária e que o assunto O missionário mais adequado não é o indivíduo, mas a comunidade. [...] Na comunidade nos evangelizamos (é um lugar de conversão), verificamos as motivações fundamentais de nossas ações (é um lugar de partilha) e nos ajudamos a alcançar uma maior fidelidade ao Reino e à tarefa que nos foi confiada pelo Igreja (é um lugar de discernimento)” (RMX 19).

4. Nasce para a missão (Lisboa 1541) e descobre o sentido do itinerário de estar para os outros.

“O ad extra nos pede um êxodo espiritual, cultural e afetivo que nos permita aculturar em um novo ambiente e não ter outra segurança senão o Evangelho que proclamamos. Vivendo como estrangeiros e hóspedes em outras cidades, somos sinais e fermento daquela nova família humana que abraça a todos e realizamos a missão na fraqueza e no caminho contínuo, à imitação de Cristo, dos Apóstolos e de Francisco Xavier, nosso patrono” (RMX 12.2).

5.Experimenta que os desafios e os sacrifícios da missão, “quando vividos com amor, tornam-se alegrias e fontes de grandes e numerosas consolações”. Ele se descobre como um imitador do pobre Cristo para servir aos pobres.

Como missionários “seguimos o caminho que Cristo percorreu com a sua encarnação” (Const. 14). Por isso, e lembrando as palavras do nosso Fundador “não podem adotar outros meios que não os usados por Cristo para fundar o seu Reino” (DP 16), embarcamos no caminho da kenosis escolhida por Cristo, que pede que façamos tudo por todos (RMX 48).

6.Diante dos desafios iniciais de aprender línguas, ela se sente uma criatura frágil, mas sua fraqueza, vivida em Cristo, é sustentada pela força do Evangelho.

Hoje, xaveriano é chamado a um novo radicalismo face aos desafios da missão que nos quer ser testemunhas pobres e desarmadas, livres dos projetos pessoais e no caminho da busca comunitária do projeto de Deus, também livres da necessidade de deixar uma posteridade diferente do que nos chega do anúncio da Palavra (RMX 14.1).

7.Se reconhece impulsionado pelo Espírito para ir ao desconhecido (1545: planos para o Japão).

“A missão é obra do Espírito e o missionário o é na medida em que se deixa guiar por Ele, tornando-se seu colaborador” (RMX 26).

8. Diante da perspectiva da China (1551), São Francisco Xavier questionou-se profundamente e viveu a solidão da fraqueza até se entregar totalmente a Deus, confiando apenas n'Ele (3 de dezembro de 1552).

“Consagrados para a missão, a nossa permanência nela é ad vitam, ou seja, é algo mais relacionado com o ser do que com o fazer” (RMX 93). “A esperança cristã ajuda-nos a aceitar com serenidade o difícil momento de diminuição das forças físicas e afastamento da atividade” (RMX 94), mas continuamos “em missão até o final” (RMX 95).

A importância e a relevância de São Francisco Xavier na identidade e na missão de cada um de nós xaverianos e de cada uma de nossas comunidades permanecem válidas, especialmente no que diz respeito às razões que motivaram sua vida e seu ser missionário. São Francisco Xavier foi um homem apaixonado por Cristo, de grande humanidade e em constante crescimento (em constante busca), capaz de cultivar desejos fortes e ousados, e de gozar de tribulações, sustentado por uma fé robusta e comprovada, movida pelo desejo de anunciar Cristo ... (cf. Atti Convegno Spiritualità 2006, p. 90).

Pe. Juan Antônio Flores, sx.